O feriado estava próximo e eu desejava/precisava fazer alguma atividade relacionada à natureza. Subir uma montanha seria o ideal. Já havia recebido um e-mail informando que o Grupo Granito de Montanhismo realizaria a nossa tradicional Travessia Casca Grossa, entrando na Serra dos Órgãos por Petrópolis (Caxambú) e saindo por Magé (Andorinhas). Estava indeciso, com pouca grana, sem muito ânimo por causa do clima ruim… Afinal, a meteorologia havia informado que estava chegando uma frente fria ao Estado e que o feriado seria de muita chuva. Mas eu queria muito fazer algo! Então, na última hora, decidi participar da atividade! Confirmei se o clima não seria impedimento para a realização da Travesssia e fui informado que a atividade não seria cancelada em nenhuma hipótese. Entãou, arrumei a grana necessária, arrumei a mochila e comecei a contar cada segundo até o momento do embarque rumo a Petrópolis.
Saí de casa na quarta-feira (06/06) por volta das 21h. Tenso, com medo de pegar engarrafamento, fui para a sede do GGM. O trânsido, surpreendentemente, estava ótimo e às 22:15 eu já estava no Jardim Catarina, rodeado de amigos Granitenses. Todos eufóricos, ansiosos, felizes. O ônibus saiu com 17 integrantes por volta das 23:30… Razoavelmente dentro do programado, o que é raro nas nossas atividades… Após 1h40min estávamos desembarcando em Caxambú. Todos com suas mochilas nas costas, Começamos a andar por volta de 1h30min da madrugada em direção à montanha. ãs 3h, paramos entre alguns pinheiros enormes para nosso primeiro “estacionamento”. A noite estava linda, contrariando as previsões do tempo e, como de costume, deitamos para dormir sem sequer montar as barracas! Isolante térmico no chão, saco de dormir e o calor humano dos companheiros de atividade eram mais que suficientes para um descanso agradável.
Na manhã de quinta-feira (07/06) os “Granitenses audazes” foram acordando um a um e, lentamente, tomamos nosso café reforçado. Retomamos nossa caminhada às 7h30min rumo ao primeiro almoço do feriado, na crista de uma montanha, onde chegamos por volta das 12h30min. Neste ponto todos puderam relaxar após uma refeição caprichada! Deu tempo até de tirar um cochilo… Ou de bater um papo descontraído. Depois dessa parada estratégica, recomeçamos nossa caminhada rumo ao destino da quinta-feira: o Açú. Este maciço fantástico é um tradicional ponto de “estacionamento” para o pessoal que faz a tradicional Travessia Petrópolis X Teresópolis (em tempo, NÃO é a travessia que o Granito faz… O que fazemos é algo MUITO diferente!). Precitendíamos alcançar o Açú na quinta para pernoitar lá e curtir a sexta-feira no entorno… Talvez com uma esticadinha à Pedra do Sino. Porém…
Durante nossa caminhada percebemos que o clima estava começando a mudar. Após o almoço, todos já esperavam pelas chuvas que a meteorologia havia prometido! Seguimos a partir daí com nossas capas de chuva improvisadas e às 15h40min a água começou a cair sobre nossas cabeças. Até aí, tudo bem… Afinal, estávamos esperando pela chuva e até que ela veio modesta… até foi bem-vinda, pois refrescou nossos corpos aquecidos pela caminhada morro acima. Porém, ao chegarmos em outra crista de montanha, tivemos problemas. Como nossa rota não é um caminho tradicionalmente usado por outros montanhistas, não há uma trilha bem demarcada. É frequente perdermos o rumo, sobretudo com pouca visibilidade. E neste momento a chuva aumentou, a neblina chegou e só restava ao grupo esperar até que o guia reencontrasse o caminho a seguir.
Enquanto todos esperavam parados no topo do morro, expostos ao vento, à chuva e ao frio, Celso, nosso grande companheiro e experiente integrante do Granito, foi à frente em busca da rota que deveríamos seguir. Corri atrás dele para ajudá-lo. Andamos em diversas direções e por muito tempo enquanto nossos amigos se protegiam da melhor maneira posível da chuva e do frio debaixo de uma grande lona. A esta altura nossos amigos já estavam à beira da hiportemia, parados à nossa espera. Rui, nosso líder, decidiu que passaríamos a noite ali e montou a primeira barraca, onde pôde se abrigar. Quando eu e Celso retornamos ao local onde todos estavam, decidimos então montar mais duas barracas e pouco a pouco nossos amigos puderam se abrigar da chuva, tirando a roupa molhada e trocando por roupas secas e quentes.
O que parecia ser o início de um longo momento de conforto era, na verdade, o início da nossa pior noite! Deitamos para descansar divididos nas três barracas montadas e nos preparamos para dormir por volta das 18h. Lembro que logo peguei no sono, porém acordei algum tempo depois sentindo que minhas costas estavam molhadas. Imaginei que já estivesse de madrugada e que todos estivessem dormindo, mas descobri, para meu desespero, que eram apenas 19h30min e que muitos estavam acordados, molhados como eu, com frio e sem ter como reagir. Eu estava deitado em um dos cantos da barraca e era justamente nos cantos que havia mais água. Aqui cabe uma observação: teoricamente, uma vez dentro das barracas nós deveríamos estar protegidos da chuva. Porém, durante a montagem das barracas chovia muito. Entrou muita água neste momento e ainda mais água durante toda a noite, enquanto chovia muito e ventava ainda mais. Outro aspecto é que a capa que cobre as barracas deveria estar bem presa ao chão. Todo mundo sabe que tem uns “ferrinhos” que são fixados no chão para amarrar a capa da barraca, porém estávamos sobre uma grande laje de pedra. Não havia como prender a cobertura das barracas e por isso a água da chuva continuou entrnado durante a noite.
Na barraca em que eu estava não sabíamos como estavam os demais colegas, ocupantes das outras duas barracas, mas algo nos dizia que eles também estavam molhados, como nós estávamos. Duramten boa parte da noite, ficamos sentados ou de pé dentro da barraca! Algumas vezes chegamos a cochilar sentados, uns de costas para os outros… Rezávamos em silêncio, pedindo que a chuva parasse, que o vento diminuísse, que o dia amanhecesse. Durante muito tempo nossa barraca parecia que iria voar ou que as varetas de sustentação iriam quebrar com a força dos ventos. No meio da madrugada, não aguentei e decidi sair para tentar minimizar a ação do vento na parede da barraca e tive a felicidade de encontrar um pequeno arbusto onde pude amarrar a cobertura do nosso abrigo. A partir daí, o vento passou a incomodar menos e também diminuiu bastante a quantidade de água que entrava.
Durante o tempo todo pensava comigo mesmo que aquele vento poderia estar do nosso lado, levando para longe a chuva. De fato, depois das 23h30min a chuva praticamente parou, o vento diminuiu um pouco e a partir daí pudemos nos sentir um pouco mais confiantes. Só não era possível dormir de forma adequada. Revezávamos quem deitava no meio da barraca, ondem estava um pouco menos molhado. E começamos a fazer piada com a situaação, para não entrarmos em desespero! Lembro-me de que às 5h da manhã o Celso disse: “Tô doido que chegue logo 6h… Terei certeza de que faltará só mais 6h para o meio dia!”. Rimos muito com a piada dele!!
À medida em que percebia alguma claridade vindo de fora da barraca, percebi que estava perto do Sol sair. E, contrariando todas as expectativas, às 7h da manhã saímos das barracas e vimos o Sol brilhando no horizonte! Como todas as nossas coisas estavam molhadas, decidimos que era hora de voltar pra casa. O trajeto inical seria totalmente modificado e nós iríamos dali mesmo seguir em direção à sede do parque em Petrópolis. colocamos nossas mochilas nas costas, mais pesadas do que inicialmente estavam, em função das roupas molhadas, e começamos nossa caminhada. Porém, após cerca de meia hora, Celso e Rui pararam e disseram: “precisamos decidir aqui. Vamos mesmo embora ou seguiremos para o Açú?”. O bom senso nos dizia que o ideal era ir pra casa. Mas se uma atividade do Granito não tiver ralação, não é uma atividade completa… Então decidimos seguir para o Açú!!
Levamos, desde a saída do ponto onde passamos a noite até a chegada ao topo do Açú, pouco mais de 2h30min. Montamos acampamento entre as rochas num lugar incrível!! Duas barracas e um abrigo de pedras que existe no local foram nossa proteção nesta sexta-feira (08/06). Depois de almoçarmos, todos foram deitar para repor as energias gastas na noite anterior. Às 15h apenas o Cunha e o Pára-Raio estavam fora do abrigo, secando e aquecendo meias pra todo mundo com o fogareiro a álcool… Passamos o restante da sexta-feira “entocados”. Apenas no sábado de manhã foi que saímos de nosso conforto e encaramos novamente o frio, afim de desmontarmos acampamento e retornarmos às nossas casas.
Apesar da forte neblina que chegava a molhar nossas roupas, não chovia. Apenas o frio incomodava um pouco, mas sabíamos que bastava começar a caminhada para que o frio fosse embora. Pegamos a trilha em direção à sede do parque em Petrópolis e, após algumas horas de caminhada, decidimos fazer uma pequena mudança na rota. Muitos dos que ali estavam não conheciam o Véu da Noiva, uma bela cachoeira onde é possível fazer um rapel fantástico! Então tomamos uma pequena trilha com uma caminhada de poucos minutos que nos levou, primeiro, à Gruta do Presidente. Neste ponto, encontramos três turistas franceses e decidimos parar próximo a eles para almoçar. Fogareiros acesos, panelas a postos, muita comida, diversão… Até que, como não poderia deixar de ser, voltou a chover! Mais chuva, porém desta vez estávamos todos protegidos no interior da Gruta. Esperamos algum tempo até que a chuva passou, desistimos de ir ao Véu da Noiva, colocamos nossas mochilas nas costas e nos encaminhamos em direção à saída do parque, lanternas à postos esperando a noite que já se aproximava.